NORM e TENORM são materiais radioativos de ocorrência natural. E, eles podem estar presentes aí na indústria em que você trabalha.
Por isso, fique atento. Você não vai querer ficar exposto à radiação, nem quer que seus colegas ou funcionários também estejam.
Nós vamos ajudar você a entender mais sobre cada um deles.
O que são Norm e Tenorm?
NORM é a sigla para Naturally Occurring Radioactive Materials ou, em português, materiais radioativos de ocorrência natural.
Trata-se de materiais obtidos a partir de núcleos radioativos como as séries de Urânio-238 e Tório-232. São materiais radioativos que não sofreram nenhum tipo de interação humana.
Já TENORM são os materiais radioativos de ocorrência natural tecnologicamente concentrados (Technologically Enhanced Naturally Occurring Radioactive Materials).
Neste post, falaremos sobre os aspectos gerais sobre NORM e TENORM.
O que NORM e TENORM têm de tão diferente?
NORM é um material radioativo que não contém quantidades significativas de radionuclídeos, exceto os radionuclídeos de origem natural.
A definição exata de “quantidades significativas” é uma decisão regulatória.
NORM está presente em vários lugares que você frequenta. Se você for a Guarapari, no Espírito Santo, poderá tomar banho de mar tranquilamente sobre areias com quantidades significativas de radionuclídeos. Ou seja, NORM é algo natural e faz parte do nosso cotidiano.
Entretanto, o problema está quando esse tipo de material é processado de alguma maneira. Por essa razão, materiais cujas concentrações da atividade dos radionuclídeos de origem natural são alteradas tecnologicamente recebem uma classificação diferente.
Agora vamos entender melhor o que são materiais radioativos de ocorrência natural tecnologicamente concentrados, os já conhecidos TENORM.
Os materiais radioativos de ocorrência natural, como já vimos, são aqueles elementos encontrados no meio ambiente que de alguma forma emitem radiações ionizantes.
Já o termo “tecnologicamente reforçada” significa dizer que as propriedades radiológicas, físicas e químicas do material radioativo foram concentradas ou alteradas por terem sido processadas, beneficiadas ou perturbadas de modo a potencializar a exposição humana e/ou ambiental.
NORM e TENORM na indústria
A maior incidência de materiais radioativos de ocorrência natural ocorre nas indústrias de produção de energia, mineração, tratamento de água e produtos de consumo.
No Brasil, as principais empresas que devem estar preocupadas com os riscos do NORM são aquelas ligadas ao setores de carvão, óleo e gás, mas também destacamos os riscos da radiação ionizante na indústria offshore.
As indústrias que trabalham com Monazita, Óxido de Titânio, Zircônio, Mineração de Fosfato e produção de Ácido Fosfórico, Nióbio, Estanho e Cobre também devem estar atentas.
NORM na indústria de produção de energia
Na produção de óleo e gás, o conteúdo de água de produção inicial de petróleo e de gás em um reservatório é normalmente baixo. Conforme a pressão natural dentro da formação vai caindo, a água presente no reservatório tende a ir aumentando proporcionalmente ao ritmo da produção. Essa formação de água contém sais minerais dissolvidos contendo naturalmente mais isótopos radioativos.
Uma prática comum desta indústria reside em injetar água do mar tratada dentro do reservatório explorado conforme as reservas de petróleo e gás são recuperadas. O intuito dessa injeção de água é elevar a pressão na formação e melhorar a extração do petróleo.
Contudo, a água do mar injetada tem a tendência de ser mais salina que a própria água natural encontrada na formação e, consequentemente, pode dissolver sais radioativos adicionais de minerais presentes nos diversos estratos geológicos.
O óleo e gás gerados são extraídos e passam por filtros, tanques, vasos e demais partes das linhas de produção, fazendo com que os isótopos radioativos agregados à água, sais e areia se acumulem nas paredes internas de todo o caminho que faz.
Por fim, materiais radioativos de ocorrência natural podem estar presentes em algumas linhas e peças da unidade, acumulando-se preferencialmente em conjuntos subsea, poços, tubulações, todas as instalações e equipamentos de bordo, incluindo tubos de distribuição, separadores, refrigeradores de óleo, linhas de fluxo óleo/água, separadores de água oleosa, tanques de carga e válvulas, podendo dividir-se em três tipos principais: incrustações, iodo e areia.
A incrustação pode ser encontrada nas partes superiores de poços, onde pode precipitar a partir de água produzida de alta salinidade, podendo conter sulfatos e carbonatos. Também é comum encontrar incrustações dentro de linhas, vasos e tanques.
A incrustação mais comum é o sulfato de bário (BaSO4).
O material de formação de incrustação também pode precipitar em areia e partículas de iodo, e detritos de incrustações podem ser misturados com iodo e areia dentro dos vasos. O iodo pode ser encontrado em tanques slops.
Os principais componentes das lamas são partículas finas de incrustação, areia, corrosão, flocos de tinta, etc.
As partículas grossas de areia e incrustação geralmente são mantidas em separadores e armadilhas de areia.
A existência do acúmulo de TENORM está ligada diretamente ao tempo de operação e ao perfil geológico da bacia explorada. É necessário fazer o acompanhamento periódico para assegurar que o acúmulo deste material está abaixo do especificado como seguro.
Em campos de exploração onde haja histórico de acúmulo e/ou incrustações, é sugerido que se realizem monitorações no mínimo anuais nas unidades.
Já em campos onde não tenha sido observada a presença desse tipo de material, pode-se trabalhar com uma periodicidade de monitorização a cada 5 anos.
O material TENORM é tratado conforme o princípio do limite aceitável de risco, a ALARP (As Low As Reasonably Practicable).
As medidas necessárias devem garantir, na medida do possível, que as exposições à radiação provenientes destes materiais aos trabalhadores não ultrapassem os limites estabelecidos pela CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear) enquanto todo o rejeito é removido.
O que é a CNEN?
CNEN é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação(MCTI), criada em 1956. É a Comissão Nacional de Energia Nuclear, instituição responsável por regular e fiscalizar o uso da energia nuclear no Brasil.
Ela investe também em pesquisa e desenvolvimento, buscando um uso cada vez mais amplo e seguro das técnicas do setor. Suas 14 unidades estão distribuídas por nove estados brasileiros e a sede localiza-se no Rio de Janeiro.
TENORM nos produtos de consumo
Alguns materiais radioativos de natureza natural melhorados tecnicamente podem ser encontrados em alguns produtos de consumo.
Por exemplo, o zircônio (ZrSiO4) contém pequenas quantidades de urânio e tório e é amplamente utilizado como esmalte para cerâmica e moldes metálicos.
Nas antiguidades, produtos de antiquário, tais como móveis, roupas, jóias, livros, bonecas, pratos e muitos outros, você pode encontrar itens que contenham compostos radioativos.
Originalmente, esses produtos eram feitos e vendidos antes que os efeitos da radiação sobre a saúde fossem bem compreendidos e muito antes das medidas protetivas contra radiação serem implementadas.
Os materiais de construção são produtos com risco de TENORM.
Quase todas as rochas, minerais e solos podem conter pequenas quantidades de materiais radioativos de ocorrência natural. Esses materiais radioativos podem acabar parando em produtos comuns como tijolos, blocos de cimento, bancadas de granito e azulejos.
Para finalizar, de longe, a maior dose de radiação recebida pela população (após o radônio) é através do fumo.
Embora a fumaça de cigarro não seja uma fonte óbvia de exposição à radiação, ela contém pequenas quantidades de materiais radioativos que os fumantes trazem nos pulmões enquanto inalam. As partículas radioativas se hospedam no tecido pulmonar e ao longo do tempo contribuem para uma maior dose de radiação.
A radioatividade pode ser um dos fatores-chave no câncer de pulmão entre os fumantes.
As células mais radiossensíveis são aquelas integrantes do ovário, dos testículos, da medula óssea e do cristalino(olho), além dos demais órgãos mostrados na ilustração acima.
Mais indústrias geradoras de NORM/TENORM
Indústrias ligadas à mineração, produção de energia e tratamento de água, geram resíduos e rejeitos NORM/TENORM.
Mais alguns exemplos dessas indústrias são as companhias de extração de elementos em terras rasas, produção de nióbio, manuseio e disposição de resíduos de tratamento de água, mineração subterrânea, produção de TiO2 (Rutilo), indústria de fosfato, produção de metais e carvão.
No Brasil, NORM está usualmente associado com as indústrias não nucleares, ou seja, com as indústrias de extração e processamento de minério tradicional. Do ponto de vista regulatório, a mineração e beneficiamento de urânio constituem monopólio da União Federativa e, portanto, seguem a legislação do ciclo do combustível nuclear, não aplicável à NORM.
Uma indústria que gera NORM na forma de subprodutos, resíduos e rejeitos é a de extração e processamento de minérios.
A obtenção de metais por processos térmicos ou químicos, a partir de minérios como a cassiterita (Sn), columbita-tantalita e pirocloro (Nb, Fe, Ta, ETR), entre outros, produz resíduos e rejeitos que contém concentrações variáveis de urânio e tório associados, produtos sob a supervisão da CNEN.
O processo de verificação ao cumprimento dos requisitos de segurança e de radioproteção nas instalações minero-industriais são estabelecidos na norma CNEN-NN-4.01 e implementados através de inspeções e auditorias.
Portanto, as instalações são inicialmente classificadas com base em uma abordagem gradual quanto ao risco, e diferentes aspectos são considerados no processo de fiscalização das instalações que lidam com NORM.
Na última década, as inspeções têm indicado que o principal problema enfrentado pela indústria mínero-industrial é a gestão e a deposição de NORM, muitas vezes, de forma inadequada, com consequências à proteção do público e ambientais.
Todos esses TENORM emitem radiação e são a causa de exposições de radiação gama externa. Se os TENORM são inalados e/ou ingeridos, os órgãos do corpo são expostos à radiação alfa emitida por partículas TENORM no pulmão e trato gastrointestinal.
Há também risco associado à inalação do gás radônio, que é radioativo e é liberado pelo decaimento do rádio-226. Inalar esse gás dentro de vasos com pouca ventilação ou outros espaços confinados pode resultar em exposição interna à radiação.
No entanto, dentro de algumas horas, o fluxo de emissão desse gás é interrompido e a radiação gama externa não é mais captada.
NORM é designado por lei ou pelas autoridades reguladoras, estando sujeito, portanto, ao controle, devido à sua radioatividade. O controle regulatório como uma prática inclui a opção de isenção, ou seja, se não é regulado, não é NORM.
Os 5 riscos da radiação por TENORM
Os principais riscos associados com TENORM acima dos limites estabelecidos pela CNEN estão ligados à forma de contato.
É possível ter contato com material radioativo de cinco maneiras:
- Ingestão
- Inalação
- Absorção pela pele
- Exposição
- Incorporação interna
Conclusão
O NORM e o TENORM estão presentes com frequência no nosso cotidiano. Entretanto, o NORM pode gerar grandes riscos para a saúde do ser humano e para o ambiente, por isso, práticas rígidas de trabalho devem ser adotadas em todas as áreas onde houver presença dele.
É necessário assegurar que nenhum elemento da força de trabalho receba uma dose excessiva ao limite admissível para qualquer pessoa do público em geral, conforme a legislação CNEN vigente (Norma CNEN NN 3.01).
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FONTES
- CNEN – Comissão Nacional de Energia Nuclear
- Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações
- IAEA – International Atomic Energy Agency
- UNEP – United Environment Programme
- UNSCEAR – United Nations Scientific Committee on the Effects of Atomic Radiation
- IRD – Instituto de Radioproteção e Dosimetria
- Associação Brasileira de Energia Nuclear
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