Você trabalha ou conhece alguém que trabalha com mineração ou extração de petróleo em terra firme?
Todos os profissionais que trabalham na indústria de transformação, como mineração ou exploração de petróleo e gás podem estar correndo risco de irradiação ou contaminação por radiação ionizante devido ao total desconhecimento da situação que vivenciam no ambiente de trabalho.Se você trabalha com Segurança do Trabalho ou especificamente com Radioproteção, deve ter uma atenção ainda maior aos riscos que iremos apresentar ao longo do texto.
Muitos profissionais não têm consciência de que podem estar expostos à radiação no seu próprio ambiente de trabalho.
Está surpreso? Isso é mais comum do que você imagina.
Este artigo foi escrito para te alertar sobre as maiores ameaças que os profissionais que trabalham na indústria estão sofrendo por total desconhecimento sobre o que acontece na mineração e na exploração de petróleo.
Os 3 principais riscos de exposição à radiação na indústria são:
- Material NORM/TENORM
- Resíduos e rejeitos radioativos da produção
- Fontes radioativas de prestadores de serviço
A exploração de petróleo começou pelo onshore e até hoje é o modelo mais comum. Isto se deve ao baixo custo de investimento necessário para sua implantação.
As instalações de exploração de petróleo e gás possibilitam um maior dinamismo ao mercado.
Pela menor complexidade, não só as grandes empresas que atuam no offshore, mas também pequenas e médias empresas podem investir nessa atividade econômica.
No Oriente Médio, por exemplo, região que mais extrai petróleo no mundo, o uso de plataformas onshore é predominante.No Brasil, a extração onshore ainda é pouco abordada pelas empresas do setor. Atualmente, segundo dados da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, existem 192 campos de exploração petrolífera no Brasil, sendo que 20% destes campos pertencem à Petrobras. 75% dos campos de exploração brasileiros estão localizados na região Nordeste e, no ano de 2016, o Brasil produziu cerca de 120 mil barris de petróleo por dia nas plataformas onshore.
Apesar de ainda ser relativamente pequeno, o setor de exploração petrolífera onshore no Brasil tem potencial de crescimento. Situação oposta à Mineração que tem um largo histórico de atividade nas terras brasileiras. O Brasil é um dos maiores produtores de minério do mundo, tendo campos espalhados por diversos estados da Federação.
No entanto, tratando-se de onshore, tanto a exploração de minério como de petróleo e gás enfrentam as mesmas ameaças em radioproteção.
Os riscos radiológicos enfrentados no onshore estão relacionados ao NORM/TENORM e às fontes radioativas dos instrumentos utilizados na atividade.
Vamos começar pelo NORM/TENORM, risco mais comum do onshore e que tem muita importância para a Segurança do Trabalho e especificamente para a Radioproteção.
1. Riscos de contaminação por NORM/TENORM na indústria
NORM e TENORM são materiais radioativos de ocorrência natural. E eles podem estar aí na indústria em que você trabalha.
NORM é a sigla para Naturally Occurring Radioactive Materials ou, em bom português, materiais radioativos de ocorrência natural. Trata-se de materiais obtidos a partir de núcleos radioativos como são os casos das séries de Urânio-238 e Tório-232.
Enquanto NORM diz respeito aos materiais radioativos que não sofreram nenhum tipo de interação humana, o TENORM se caracteriza exatamente pela ação humana sobre estes materiais.
TENORM são os materiais radioativos de ocorrência natural tecnologicamente concentrados (Technologically Enhanced Naturally Occurring Radioactive Materials). Eles decorrem do processamento ou manipulação do material NORM de modo que este manuseio potencialize a exposição à radiação ionizante.
Os órgãos brasileiros responsáveis pela normatização e fiscalização de atividades que envolvem materiais radioativos estão atentos em relação à ocorrência desse tipo de material tanto na exploração de minério como de petróleo e gás.
Os riscos são reais e podem acarretar sérios danos físicos (incluído o óbito) aos funcionários envolvidos e dispendiosos processos civis e trabalhistas para os gestores e encarregados. Sem falar no risco ambiental que trataremos mais adiante.
Como ocorre a contaminação por NORM/TENORM em plataformas onshore?
A indústria de Óleo e Gás explora suas matérias-primas em regiões caracterizadas pela presença de elementos radioativos de ocorrência natural. Por isso, os processos que envolvem as instalações onshore acumulam materiais radioativos nocivos à saúde em seus sistemas.
Linhas, tanques e vasos acabam formando depósitos e incrustações em suas paredes. E como no onshore, apesar da menor quantidade de instalações, temos um maior volume de produção, os problemas são expandidos.
Sem falar nos gasodutos e oleodutos que apresentam quilômetros de extensão.
O risco de contaminação radioativa está relacionado aos radionuclídeos concentrados durante o processo de extração, transporte e/ou produção de petróleo e gás. A ocorrência se dá pelo acúmulo de lodo e resíduos de petróleo nos equipamentos de extração, as chamadas incrustações.
As incrustações radioativas reduzem a capacidade de produção da planta, dos sistemas de elevação e escoamento. Por conta disso, exigem paradas programadas para intervenções (limpezas, squeezes, troca de elementos, etc.), com custos normalmente elevados, comprometendo as metas de produção e a eficiência operacional.
As paradas de planta para manutenção são chamadas de shutdowns. É nesse momento que ocorre a maioria das contaminações.
Os profissionais estão expostos a uma grande quantidade de fontes, pois estão fazendo a limpeza de uma material que contém elementos radioativos. Por essa razão é que durante o shutdown as medidas de radioproteção devem ser aplicadas rigorosamente.
Além da exposição à radiação, a contaminação interna (inalação e/ou ingestão) é o maior perigo envolvendo esse procedimento.
Durante a limpeza e manutenção das incrustações, peças são cortadas e poderosos jatos são usados, o que acarreta no lançamento de minúsculos fragmentos contendo material radioativo no ambiente de trabalho.
A contaminação interna por elementos radioativos é uma das mais perigosas. Ela causa efeitos imediatos aos órgãos contaminados, podendo levar à morte. Diferente do que acontece com a exposição à radiação. Ao estar exposto, o efeito é apenas potencializado, ocasionando consequências mais drásticas somente com a recorrência excessiva à exposição.
Mas, e quanto aos riscos de NORM/TENORM na mineração?
Indústrias ligadas à mineração também geram resíduos e rejeitos NORM/TENORM.
Especificamente, alguns exemplos dessa indústria são as companhias de extração de elementos em terras rasas, produção de nióbio, mineração subterrânea, produção de TiO2(Rutilo), Indústria de fosfato, produção de metais e carvão.
No Brasil, NORM está usualmente associado com as indústrias não nucleares, ou seja, com as indústrias de extração e processamento de minério tradicional.
Do ponto de vista regulatório, a mineração e beneficiamento de urânio constituem monopólio da União Federativa e, portanto, seguem a legislação do ciclo do combustível nuclear, não aplicável à NORM.
Uma indústria que gera NORM na forma de subprodutos, resíduos e rejeitos é a de extração e processamento de minérios, por exemplo.
A obtenção de metais por processos térmicos ou químicos, a partir de minérios como a cassiterita (Sn), columbita-tantalita e pirocloro (Nb, Fe, Ta, ETR), entre outros, produz resíduos e rejeitos que contém concentrações variáveis de urânio e tório associados, produtos sob a supervisão da CNEN.
O processo de verificação ao cumprimento dos requisitos de segurança e de radioproteção nas instalações minero-industriais são estabelecidos na norma CNEN-NN-4.01 e implementados através de inspeções e auditorias.
Essas instalações são inicialmente classificadas com base em uma abordagem gradual quanto ao risco e diferentes aspectos são considerados no processo de fiscalização das instalações que lidam com NORM.
Na última década, as inspeções têm indicado que o principal problema enfrentado pela indústria mínero-industrial é a gestão e a deposição de NORM, muitas vezes, de forma inadequada, com consequências à proteção do público e ambientais.
Todos esses TENORM emitem radiação e são a causa de exposições de radiação gama externa. Se os TENORM são inalados e/ou ingeridos, os órgãos do corpo são expostos à radiação alfa emitida por partículas TENORM no pulmão e trato gastrointestinal.
Há também risco associado à inalação do gás radônio, que é radioativo, fruto do decaimento do rádio-226. Inalar este gás dentro de vasos com pouca ventilação ou outros espaços confinados pode resultar em exposição interna à radiação.
No entanto, dentro de algumas horas, o fluxo de emissão deste gás é interrompido, a radiação gama externa não é mais captada.
NORM é designado por lei ou pelas autoridades reguladoras estando sujeito, portanto, ao controle, devido à sua radioatividade. O controle regulatório como uma prática inclui a opção de isenção, ou seja, se não é regulado, não é NORM.
5 perigos da radiação por TENORM
Os principais riscos associados com TENORM acima dos limites estabelecidos pela CNEN estão ligados à forma de contato.
É possível ter contato com material radioativo de cinco maneiras:
- Ingestão
- Inalação
- Absorção pela pele
- Exposição
- Incorporação interna
Cuidados de radioproteção para NORM/TENORM na indústria
Quando falamos de medidas de radioproteção, devemos nos basear no órgão máximo brasileiro responsável pela fiscalização das atividades que envolvem materiais radioativos, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).
Algumas das normas previstas pelo órgão são:
Norma CNEN NN 3.01, de 06/01/2005
Estabelece os requisitos básicos de proteção radiológica das pessoas em relação à exposição à radiação ionizante.
Esta Norma é aplicada em todo o envolvimento de fontes radioativas nas práticas de manuseio, produção, posse e utilização de fontes, bem como o transporte, o armazenamento e a deposição de materiais radioativos, abrangendo todas as atividades relacionadas que possam envolver exposição à radiação.
Norma CNEN NN 5.01, de 01/08/1988
Estabelece requisitos de radioproteção e segurança, com relação ao transporte de materiais radioativos, a fim de garantir um nível adequado de controle da eventual exposição de pessoas, bens e meio ambiente à radiação ionizante.
A norma trata das especificações sobre materiais radioativos para transporte, da seleção do tipo de embalado, das especificações dos requisitos de projeto e de ensaios de aceitação de embalados, das disposições pertinentes ao transporte propriamente dito e das responsabilidades e requisitos administrativos (CNEN, 1988b).
Norma CNEN NN 6.02, de 16/04/2014
Dispõe sobre o licenciamento de instalações radioativas que utilizam fontes seladas, fontes não-seladas, equipamentos geradores de radiação ionizante e instalações radioativas para produção de radioisótopos.
Norma CNEN NN 7.01, de 30/05/2016
Dispõe sobre a certificação da qualificação de supervisores de proteção radiológica, que pode provocar câncer e danos à estrutura do DNA, afetando inclusive futuras gerações.
A CNEN disponibiliza um breve roteiro sobre a radioproteção na perfilagem de petróleo.
Efeitos biológicos do TENORM
Os efeitos biológicos da radiação podem levar poucos dias ou até dezenas de anos para se manifestarem, sendo classificados em estocásticos ou determinísticos.
Efeitos estocásticos são efeitos em que a probabilidade de ocorrência é proporcional à dose de radiação recebida, sem a existência de limiar. Isto significa que doses pequenas, abaixo dos limites estabelecidos por normas e recomendações de proteção radiológica, podem induzir tais efeitos. Neste tipo de efeito destaca-se o câncer.
Já efeitos determinísticos são efeitos causados por irradiação total ou localizada de um tecido, causando um grau de morte celular não compensado pela reposição ou reparo, com prejuízos detectáveis no funcionamento do tecido ou órgão.
Existe um limiar de dose, abaixo do qual a perda de células é insuficiente para prejudicar o tecido ou órgão de um modo detectável. Isto significa que os efeitos determinísticos são produzidos por doses elevadas, acima do limiar, onde a severidade ou gravidade do dano aumenta com a dose aplicada.
Portanto, a probabilidade de efeito determinístico, assim definido, é considerada nula para valores de dose abaixo do limiar, e 100%, acima.
.